terça-feira, 12 de janeiro de 2010

“FOI TUDO MUITO RÁPIDO”

Ele, muito atrasado, rapidamente engole o seu café. Larga a xícara dentro da pia, e sai correndo segurando uma pasta executiva na mão, batendo a porta do apartamento com violência.

Ela, tranquilamente arruma os cabelos diante de um espelho embassado pelo vapor. Passa creme hidratante, e em seguida um mousse para dar volume. Com muita paciência, ajeita com os dedos cada fio de cabelo.

Ele desce as escadarias do metrô com a velocidade de um corredor jamaicano.

Ela abre a porta do elevador e caminha a passos curtos pelo hall de entrada de seu edificio.

Com muita dificuldade, Ele entra no vagão.

Ela olha para o relógio: 6h: 35min. O trem encosta na plataforma. Ela embarca tranquilamente, escolhendo onde sentar.

Ele olha para o relógio: 7h: 15min. “Fodeu” pensou ele, prensado entre os outros passageiros.

Ela, sentada, lê a manchete de um jornal que um senhor segura no banco à frente: “Governo proíbe manifestações de amor e afeto em público”. Ela, inconformada, balança a cabeça.

O trem pára em uma estação, onde a maioria dos passageiros desembarca. Finalmente, Ele consegue se sentar. E bem em frente a Ele, está Ela. Ele a olha. Ela desvia o olhar. Ele olha para o lado, onde o mesmo senhor ainda lê o mesmo jornal. Ele a olha novamente. Mas agora, Ela o encara. Com um leve movimento da cabeça, Ela aponta para a manchete do jornal. Ele inclina o tronco para frente, na tentativa de ler. O senhor abaixa um pouco o jornal, e olha na direção D’Ele, que recua. Ela sorri, achando graça. Ele também sorri, enquanto se levanta: “Vou descer na próxima...” diz com certa timidez. “Espera.” Ela anota o seu telefone em um papel e entrega para Ele. “Me liga” Ele pega o papel e o coloca no bolso. O trem pára. “Vou ligar” diz Ele, enquanto sai do trem. Ela olha para trás procurando por Ele, que continua lá, olhando para Ela. A porta se fecha, e como que em um feitiço do tempo, tudo fica em camêra lenta. O trem parte, mas nem Ele e nem Ela, desviam o olhar um do outro.

Muito tempo depois, já casados e com os filhos crescidos, algumas pessoas ainda perguntam como foi que se conheceram. E na mesma sintonia, e ao mesmo tempo respondem: “Foi tudo muito rápido...”, e começam a contar, detalhe por detalhe, aquele que fora o maior e melhor dia de suas vidas.


FIM